07 março, 2009

Cópias.... Cópias...

Em meados de janeiro, veículos da comunicação informaram ao mundo, dentre outros, os cinco indicados ao Oscar que competiam ao prêmio de melhor filme. As "cotas" foram devidamente preenchidas: a vaga de filme político, sério e correto ficou com Frost/Nixon (EUA -Ron Howard); o drama melancólico pseudo-intimista com "ótimas" atuações foi para O Leitor (Inglaterra - Stephen Daldry); o filme em que o personagem é o filme (e neste caso dá até nome à obra) foi para Milk (EUA - Gus Van Sant); a comédia fofa e independente com inspirações contemporâneas para Slumdog Millionaire (Inglaterra - Danny Boyle); e, por fim, a superprodução manipuladora de categorias O Curioso Caso de Benjamin Buton (EUA - David Fincher). Tratando-se dos indicados, o prêmio da indústria não mudou muito, mas espantou bastante quanto ao favoritismo que se confirmou com a abertura dos envelopes. Oito vezes "Slumdog Millionaire" foi pronunciado após "the oscar goes to..." . Isso é inusitado porque "Button" tem todos os arquétipos dos vencedores que o antecedem. Slumdog corresponde ao Juno, do ano passado, e ao Pequena Miss Sunshine, do anterior (aliás, é da mesma destribuidora).

Mesmo com muita maquiagem não foi possível esconder o Forrest Gump por trás de tudo...



Kathleen Kennedy, possivelmente a mais respeitada produtora de Hollywood, costuma produzir filmes para o Spielberg e para o Zemeckis. Neste seu ultimo trabalho, novamente cham ou o roteiris ta Eric Roth (Munich e Forrest Gump), desta vez para adaptar o conto homônimo doF. Scott Fitzgerald. E estranhamente chamou um diretor de filmes autorais, o David Fincher (Clube da Luta). Não sei dizer o que ocorreu, se foi falta de criatividade ou uma

tentativa de repetir a fórmula, já que o Forrest Gump levou 6 estatuetas. Veja a base da história do Benjamin Button: nasce um garoto com problemas físico que tem que viver isolado da sociedade por conta de sua deficiência, então acaba por se apaixonar por uma doce menina que na adolescência abandona a pacata cidade onde vivem; depois de muito se aventurar pelo mundo essa garota acaba tendo que voltar; nisso o protagonista já moveu mundos para declarar sua paixão pela moça; então a desgraça os une, e mais tarde a desgraça os separa, mas o amor deles já está eternizado na concepção de um herdeiro. Pouxa, falava eu do Button ou do Forrest? Se trocarmos a Daisy do Button pela Janny do Gump; se trocarmos a má formação dos ossos das pernas do Forrest pela inversão de idade do Benjamin; se trocarmos o famoso banco em que o Forrest Gump conta suas histórias pelo diário do Benjamin... Não há uma cena no filme que não se possa fazer uma analogia. Em 1994 Forrest Gump mostrou-se uma obra nova, mais de uma década se passou...



Pulp Fiction, Cidade de Deus - Slumdog Millionaire



Está aí o acerto de contas da academia. Em 1994 Forrest saía galardonado, sendo que um filme realmente contemporâneo e criativo estava competindo com ele, Pulp Fiction. Mais tarde Cidade de Deus (um bom filme, afinal de contas) teve a "sorte" de disputar todas as categorias com O Senhor dos Anéis-O Retorno do Rei (superprodução manipuladora de indicações). Agora, em 2009, Slumdog Millionaire, um filme que abusa das idéias de Pulp Fiction (roteiro com narrativa descompassada e descordenada) e de Cidade de Deus (fotografia ágil, com cores quentes vibrantes e edição de cortes eficientes, sem contar a história em si) e claro, o cinema indiano, o qual homenageia abusando de seus clichês (mas, claro, revestindo-os de forma singela), faz o acerto de contas. Mas um acerto tão atrasado que só não faz perder seu efeito por completo quando comparados os orçamentos dos filmes: 160 milhões de dólares para o Benjamin Button contra os humildes 15 milhões que o Danny Boyle teve que "se virar". Mas Slumdog ganhou 8 Oscars com qualidades que foram trazidas por outros, ele só catalizou. No final das contas, a cópia (Slumdog) venceu a outra cópia (Button).




6 comentários:

Pacífico disse...

slumdog não é nem de perto uma comédinha fofa....é até meio trash.....e mereceu o oscar q realmente é muito doido!

Maurício Chades disse...

sim sim.. mereceu o oscar.. mas o filme é sim uma comedinha fofa.. ele tem vários planos.. o plano q é comedinha fofa é a infância do pessoal e a história de amor de Jamal e Latika..ele sempre com aquela cara de bobão apaixonado..

Pacífico disse...

vc achou fofo o fato de crianças perderem membros e ficarem cegos pra pedir esmolas?....dele ser torturado por causa de um programa? ou pelo fato de só acontecer merda na vida dele? (exceção do programa)

Maurício Chades disse...

nossa.. fiquei com dó deles agora.. tadinhos, tão miseráveis

tiago disse...

ótimo texto, mas discordo e concordo com algumas coisas.
Acredito que chamar um filme de cópia é algo que exige um certo cuidado, pois vemos os casos citados (merda de teclado - algumas teclas nao estao funcionando), Button pode ter algo de Forrest Gump, mas reluto em dizer que sao obras bem distintas. Pelo menos comigo foi, pois nao retomei nenhuma referencia de Forrest enquanto o rejuvenescimento de Button propagava-se na tela. E Slumdog que em poucos momentos bem (mal?) pensados evocam algo de Cidade de Deus também apresenta diferenças concretas com o trabalho brasileiro. Entretanto estive pensando hoje e cheguei a conclusao de que Slumdog peca em querer jogar com os cliches bollywodianos, porque nao se faz uma critica de cliches utilizando-as tao perfeitamente, apenas se torna mais uma caricatura do cinema hollywodiano de certos anos atrás.

Gabriela Cristina disse...

sim, um dos melhores filmes que ja vi. E também axo q em certos momentos me vieeram a cabeça cenas de 'cidade de Deus'. mas acho que a inocência criada ou redor de tooda a trama foi oq fez desse filme um drama muito bonito. e eu amei o filme =D