20 junho, 2008

Sem Título

No tempo recalcado que tinha para olhar para trás enquanto a professora Maria se distraia, tornei a cutucar a cadeira do Carlos para pegar o "bilhetinho da salvação" daquele dia. Não demorei. Na primeira oportunidade quase desloquei o braço(hupft!) para pegar a cola. Ressoou pela sala um barulho adrupto e a professora Maria já apontava seus olhos gulosos para descarregar sua raiva em algum sorteado. Mas eu possuo o dom do "Estou natural. Ops que barulho foi esse?". No entanto dona Maria já muito antes de e começar a desenvolver minhas técnicas fatais de aluno de escola pública.
Então seus olhos vidram, durante quase todo o tempo da prova semestral, o problemático, possível problemático dos desejos de Maria. Que maligna esta Maria, uma mulher que em casa não fala, não tem condições de falar. Não se abre para ninguém, e seu único amigo é o espelho diante de si.
Maria é mais uma das propagadoras da discórdia. Fruto da brutal incidência de uma moral imposta pelo seu marido de cabeça marginal. Maria se tornou uma hospedeira da maldade, uma ponte voltada para baixo de horrores a serem passados. Pobre mulher brasileira. O seu problema não é seu, é o marido. Quem apanha nunca esqueci, mas nesse caso, não pode e nem poderá se vingar.
O que aconteceu comigo no fim da prova? Sendo eu, garoto que se encontrava quase no meio da sala e entregou a prova quando boa parte da turma já descarregou o folhaco. Separou minha bem-dita folha das demais olhando meus olhos como quem quisera desgraçar os outros por puro hobbie. E foi o que rolou.
Papais meus foram chamados ao comparecimento para consentimento da disgracença de vosso filho. Nem julgado fui. Condenado imediatamente por cola, uma cola que não faz mal nem a uma mosca que em cima pousara.
- Filho meu! Seu bosta! - dizia papis
- Morro de vergonha! - Gemia mamis.
Vingança, vingança, vingança. Era só o que eu precisava, mas minha carga limitada e curtíssimadessa maldade não poderia ser escoada para o lago da professora. Temia a série de possíveis represálias oferecidas pelos meus pais. Então decidi uma coisa e cumpri. Fiz da minha esposa uma professora perversa, maligna! cheia de coisa ruim no heart!

p. 59 Diário n° 3 de Fábio Peçanha

Vinte e um de Julho de mil novecentos e noventa e quatro